domingo, 5 de junho de 2011

Silêncio

Cada vez que tento abrir o cadeado do meu próprio silêncio, ele fecha-se mais ainda em mim. Apodera-se de todos os meus lugares, de todos os meus cantos, de todos os meus espelhos convexos. Sou o som mascarado de nada.
Esse silêncio é um descanso cruel das palavras. Palavras essas que se abrigam na minha mente, esperando que o silêncio preencha os seus espaços em branco.
O silêncio é uma tentativa. É o inaudível a tentar expressar-se, a fundir-se com a sua outra metade. São dois pólos contrários que se procuram e se completam.
As palavras formam-se no ar dos pensamentos. Formam-se e deformam-se num jogo constante de incertezas. Desvendam-se. Emendam-se.  Moldam-se. Significam-se.
Rodopiam numa esfera acrílica, que descreve uma escala de cores diluindo-se numa textura rendilhada.
Perco-me no meio dessa rede, desse léxico que se mostra inexpressável e insensato.
O que te quero dizer é um mistério. São códigos. São senhas. São segredos guardados num baú. São palavras que o dicionário ainda não alberga.  
No meio desse céu preenchido de interrogações, voa a certeza de que o silêncio torna tudo possível enquanto dura. O silêncio tem em si o tudo e o nada, o sim e o não, a noite e o dia, o céu e a terra, o possível e o impossível.
O silêncio cumpre a sua função escrupulosamente.
Ainda assim, gostava de te dizer tudo, fazendo deslizar os vocábulos em longos parágrafos para me aproximar de uma descrição perfeita de tudo o que se passa, mas cheguei à conclusão que o ar iria esbater as minhas palavras e levava-las para longe, como se nunca me tivessem pertencido. O oxigénio iria corroer os alicerces frágeis que as sustentam e tudo iria desaparecer como se nunca tivesse existido.
O silêncio.
Esse pretensioso lugar!
Esse espírito que mata as palavras e se apodera dos seus corpos para se expressar.
Esse grito mudo que solto de um lugar bem dentro de mim e que mesmo assim não consegues ouvir…

1 comentário:

  1. "O silêncio tem em si o tudo e o nada, o sim e o não, a noite e o dia, o céu e a terra, o possível e o impossível.
    O silêncio cumpre a sua função escrupulosamente."

    Pensamento sublime!

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